Para mulheres, status é sucesso profissional
Os caríssimos pares de Manolo Blahnik que calçam a escritora Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker no filme "Sex and the city", não são exactamente um símbolo de status para as mulheres que vivem em grandes centros metropolitanos. Nem mesmo o imponente Mercedes-Benz GLK branco dirigido pela amiga Samantha (Kim Cattrall) no filme, ou o vistoso brilhante que ela ganha do namorado, ou ainda as grifes famosas que desfilam o tempo todo pela trama - Gucci, Chanel, Prada, Louis Vitton, Viviene Westwood, entre outras. Em se tratando de status, não há nada tão expressivo para as mulheres quanto ocupar posição de destaque no trabalho, ser dona do próprio tecto num bairro valorizado e ter companheiro fixo, nesta ordem.
Essa é a conclusão de uma pesquisa feita pelo portal Bolsa de Mulher. Durante 20 dias, o portal perguntou a 1,1 mil mulheres, com idade entre 30 e 40 anos, moradoras de oito das maiores cidades do país, o que significa status para elas hoje em dia. Um quarto delas respondeu que é ocupar uma posição de destaque no trabalho. Em segundo lugar, com 23,6% das respostas, é ser dona da própria casa num bairro valorizado. A terceira opção mais votada (18,2%) foi ter um marido ou companheiro fixo.
"Com excepção do imóvel, as duas opções que ganharam a preferência das mulheres relacionam status a conquistas no trabalho e à vida afectiva, coisas que não têm a ver com posses materiais", afirma Andiara Petterle, presidente do Bolsa de Mulher. Andiara, que fez mestrado em comunicação nos Estados Unidos, com foco na teoria do consumo feminino, também chama a atenção para o fato de que a única opção "material" entre as três primeiras - "ser dona do próprio teto em um bairro valorizado" - está mais relacionada à imagem que se tem do proprietário, alguém "poderoso", do que com o valor do bem em si. "Para ela, a posse desse imóvel atesta a sua independência e o seu sucesso", diz.
A pesquisa seguiu o modelo de múltipla escolha, sendo que cada entrevistada escolheu três opções. Na amostra, 63% das têm curso superior completo, pós-graduação ou mestrado. A maioria é casada (50,8%). As opções de símbolo de status que ficaram em segundo plano para as entrevistadas foram "ser magra e/ou desejável sexualmente" (11,6%), "ter filhos" (10%), "ter o carro do ano" (6,7%), "ter roupas, sapatos e bolsas de grife" (3,6%), "ter jóias caras" (1,3%).
Os resultados mostram que as mulheres do século XXI estão distantes do rótulo de fúteis ou consumistas que ainda costuma se vincular ao seu perfil, inclusive na publicidade. "Hoje, a mulher se sente mais segura de si usando um jeans velho no seu apartamento de 500 metros quadrados do que desfilar por aí com um diamante de vários quilates na mão", diz Andiara, que completa: "Mesmo porque ela não teria muito aonde ir com esta jóia".
Júlio Ribeiro, presidente da Talent, ressalta que o conceito de luxo mudou. "O modelo da sociedade de dez anos atrás era baseado fundamentalmente na conquista de bens de consumo que geravam status, como jóias da Tiffany's ou Mercedes-Benz na garagem", diz ele. "Hoje, o luxo é compensatório: você quer tudo isso, mas como presente por ter trabalhado duro", afirma. Actualmente, diz Ribeiro, a competência indica o verdadeiro status. "A posição que você ocupa na sociedade diz mais sobre você do que aquilo que você exibe", diz o publicitário.
Ao subir na hierarquia profissional, a mulher sabe que pode conquistar todo o resto na sequência. "Tudo o que possa garantir à mulher a auto-sustentação passa a ser a sua prioridade, foi para isso que a sociedade as moldou", afirma Dulce Critelli, professora titular do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para Dulce, a "personalização" do status, por sua vez, reforça o individualismo.
Ruy Lindenberg, vice-presidente de criação da Leo Burnett, concorda. "Ela pode atingir o sucesso econômico sozinha, desvinculada do marido, e ter o que quiser", diz ele, que vê na pesquisa do Bolsa de Mulher a clara preferência pela individualidade. Já na opinião da colega Ana Paula Cortat, vice-presidente de planeamento da Leo Burnett, o levantamento indica o quanto um mundo "muito superficial", de roupas e jóias caras, perdeu espaço no universo feminino. "Hoje ela quer causar admiração, inveja ou respeito através do poder que exerce no trabalho e não necessariamente da maneira como ela se apresenta", diz Ana Paula, que ficou surpresa com o fato de que ter um companheiro fixo também é sinónimo de status. "Sinal que elas se sentem cobradas por ter alguém".
Segundo pesquisa coordenada pela professora Betania Tanure de Barros, da Fundação Dom Cabral (FDC) e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional, 80% dos homens do alto e médio escalão são casados, contra 20% das mulheres nas mesmas posições - de gerência, directoria e presidência. "Ao questionarmos o porquê de não estarem casadas, elas disseram que o excesso de trabalho levou à ruptura da relação ou que simplesmente não sobrou tempo para encontrar alguém", diz Betania, que ouviu no ano passado 800 homens e 300 mulheres para a pesquisa, encomendada pelo banco ABN Amro Real.
Para o psiquiatra Luiz Cuschnir, especialista na relação de géneros do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), boa parte das mulheres nutre uma forte sensação de solidão, diz. "Ao dedicar cada vez mais espaço à carreira, elas sentem certa “incompetência afectiva”, que as angustia", diz Cuschnir. Betania completa: "A sociedade ainda tece sobre elas expectativas diferentes daquelas que tece sobre os homens, isso faz parte da nossa cultura", afirma.
As mulheres têm lidado com essas cobranças como podem. Andiara, do Bolsa de Mulher, lembra o caso de uma executiva brasileira que trabalha na França e que, nas visitas aos clientes, usa uma aliança no dedo esquerdo - mesmo sendo solteira. "Ela acredita que isso possa lhe trazer maior respeito profissional", diz Andiara. Casos assim, afirma, podem justificar a terceira opção mais votada na pesquisa sobre símbolos de status: o companheiro fixo. Algo que as protagonistas de "Sex and the city" conseguiram no fim do filme (com excepção de Samantha, que preferiu a solteirice sem compromissos). Por aqui, a cobrança social continua. "É extremamente constrangedor ser solteira em uma reunião de amigos casados", diz uma executiva
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
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